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Vamos falar sobre quedas?

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Juliana Chaer

10 out |

7 min

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As quedas em idosos constituem um evento frequente, de grande relevância clínica e social, com impacto direto sobre a morbidade, a funcionalidade e a qualidade de vida. Estima-se que cerca de um terço dos indivíduos com mais de 65 anos sofra pelo menos uma queda por ano, sendo que a incidência aumenta com a idade e com o grau de fragilidade. As consequências podem ser graves, incluindo fraturas (especialmente de quadril), traumatismos cranianos, hospitalizações, restrição de mobilidade, perda de independência funcional, institucionalização, medo de cair novamente, depressão e aumento da mortalidade. Aproximadamente 10% das quedas resultam em lesões sérias, e elas constituem a principal causa de morte relacionada a lesões em pessoas com 65 anos ou mais.

As principais causas de quedas são multifatoriais e resultam da interação entre fatores intrínsecos e extrínsecos. Entre os fatores intrínsecos, destacam-se a idade avançada, histórico prévio de quedas, alterações da marcha e do equilíbrio, presença de comorbidades como doenças neurológicas (como Parkinson, demência ou acidente vascular cerebral), diabetes, artrite, hipotensão postural, déficits visuais e auditivos, dor crônica, incontinência urinária e uso de múltiplos medicamentos – especialmente psicotrópicos e diuréticos. Os fatores extrínsecos incluem riscos ambientais comuns no domicílio, como tapetes soltos, iluminação inadequada, superfícies escorregadias, degraus, desníveis e ausência de barras de apoio.

A estratégia isolada mais eficaz para prevenção de quedas em idosos é a intervenção baseada em exercício físico supervisionado. Programas estruturados, individuais ou em grupo, e fisioterapia específica têm efeitos positivos comprovados. Os componentes mais efetivos incluem treinamento de equilíbrio, exercícios de marcha e funcionalidade, fortalecimento muscular, flexibilidade, exercícios aeróbicos e práticas como tai chi. Recomenda-se um mínimo de 50 horas acumuladas de exercício, distribuídas em duas a três sessões semanais, com duração mínima de 12 semanas e, idealmente, prolongamento por até 12 meses. Programas domiciliares e atividades em grupo apresentam eficácia comparável, desde que incluam progressão de dificuldade no equilíbrio e foco em membros inferiores. Modalidades como o tai chi apresentam benefícios específicos reconhecidos. Importante destacar que caminhadas isoladas, sem exercícios complementares, não previnem quedas e, em idosos com instabilidade postural, podem até aumentar o risco.

Para idosos com risco elevado ou múltiplos fatores de risco, estão indicadas intervenções multifatoriais e multidisciplinares, com base em avaliação abrangente dos fatores modificáveis. Essa avaliação deve incluir mobilidade, visão, uso de medicamentos, condições ambientais, cognição e saúde psicológica. As intervenções devem ser personalizadas e podem abranger ajuste de medicações, modificações no
ambiente domiciliar (melhoria da iluminação, retirada de tapetes, instalação de barras de apoio), cuidados com os pés, suplementação nutricional, reabilitação física e ocupacional, e encaminhamentos especializados quando necessário. A atuação de uma equipe multidisciplinar (médico, fisioterapeuta, enfermeiro, terapeuta ocupacional, nutricionista) é considerada essencial para o sucesso das estratégias.

O cuidado com o ambiente domiciliar é uma medida de grande importância. A remoção de tapetes soltos, a instalação de barras de apoio em banheiros, o uso de tapetes antiderrapantes, a correção de desníveis, a eliminação de bordas elevadas de carpetes e a melhoria da iluminação estão entre as intervenções mais recomendadas. Essas medidas são especialmente eficazes quando direcionadas a idosos com histórico de quedas, limitações funcionais ou recém-hospitalizados. A realização de avaliações domiciliares por profissionais treinados permite a identificação precisa de riscos e a orientação adequada para sua mitigação.

O uso de calçados inadequados é outro fator frequentemente negligenciado, mas associado a risco aumentado de quedas. O uso de chinelos, sapatos sem contraforte, com salto elevado ou solado liso deve ser evitado. Recomenda-se o uso de calçados fechados, com sola de borracha antiderrapante, bico largo, contraforte firme, fechamento seguro (cadarço ou velcro), palmilha firme e salto baixo. Tênis ou calçados esportivos bem ajustados são geralmente preferíveis. Evitar andar descalço ou apenas de meias também é fundamental. Intervenções voltadas ao cuidado dos pés — como avaliação podológica, prescrição de calçado adequado, órteses e exercícios domiciliares — contribuem para a redução de quedas, especialmente quando fazem parte de um plano de cuidados integrado.

Medidas adicionais incluem a correção de distúrbios visuais, o manejo da hipotensão ortostática, a suplementação proteica e de cálcio (quando indicado pelo médico), e o uso de vitamina D em idosos com deficiência.

Por fim, a educação contínua do paciente e de seus familiares sobre os riscos ambientais, o uso adequado de calçados e a importância da adesão aos programas de prevenção é essencial. Recomenda-se a reavaliação periódica do ambiente domiciliar e do calçado, especialmente após quedas ou mudanças na condição funcional do idoso.

A prevenção de quedas deve ser abordada de forma proativa e integrada. Trata-se de uma medida central para a preservação da autonomia e da qualidade de vida na velhice, com impacto direto na redução de hospitalizações, institucionalizações e perdas funcionais evitáveis.

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