A sarcopenia é uma condição musculoesquelética progressiva e generalizada, caracterizada pela perda de massa muscular, força e desempenho físico. Embora comumente associada ao processo de envelhecimento, ela também pode ocorrer em pessoas com doenças crônicas, hospitalizações prolongadas, inatividade física ou desnutrição. Reconhecida oficialmente como doença pela Organização Mundial da Saúde desde 2016 (CID-10-CM, código M62.84), a sarcopenia está associada a riscos elevados de quedas, fraturas, perda da independência, internações recorrentes e mortalidade precoce.
A origem da sarcopenia é multifatorial. Envolve alterações hormonais, como a queda da testosterona e do hormônio do crescimento, inflamação crônica de baixo grau, disfunção mitocondrial, deterioração das conexões nervosas com os músculos e um fenômeno chamado resistência anabólica – quando o corpo responde menos à ingestão de proteínas ou ao estímulo do exercício físico.
Para evitar esses desfechos, é fundamental reconhecer a sarcopenia o mais cedo possível. E hoje, felizmente, existem formas práticas e acessíveis para fazer isso. As diretrizes mais atuais, elaboradas por grupos de especialistas internacionais como o European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP2) e o AsianWorking Group for Sarcopenia (AWGS), recomendam uma abordagem em etapas, combinando questionários, medidas físicas simples e exames complementares, quando necessário.
O primeiro passo pode ser um rastreamento rápido com o questionário SARC-F, composto por cinco perguntas sobre força, dificuldade para levantar da cadeira, subir escadas, quedas e necessidade de ajuda nas atividades diárias. Uma pontuação igual ou superior a 4 sugere risco de sarcopenia. Para melhorar a sensibilidade do teste, algumas versões atualizadas adicionam a medida da panturrilha (como o SARC-CalF), o que ajuda a identificar casos mais leves, especialmente em idosos ativos.
A medição da circunferência da panturrilha, feita com fita métrica comum, é uma ferramenta simples, porém eficaz. Medidas abaixo de 34 cm para homens e 33 cm para mulheres indicam perda de massa muscular e maior risco de sarcopenia. Trata-se de um método útil especialmente em ambientes com poucos recursos ou em atendimentos domiciliares.
Outro marcador importante é a força de preensão manual, medida com um dinamômetro. Resultados abaixo de 27 kg para homens e 16 kg para mulheres são considerados baixos e indicam risco aumentado de perda funcional. O Ishii Score, que combina idade, força da mão e medida da panturrilha, também é uma ferramenta prática e utilizada.
Quando os testes iniciais sugerem sarcopenia, o diagnóstico deve ser confirmado com a avaliação da massa muscular por meio de exames específicos, como a bioimpedância. Os valores de corte geralmente aceitos para a massa muscular apendicular ajustada pela altura são inferiores a 7,0 kg/m² para homens e 5,5 kg/m² para mulheres.
Além disso, a avaliação do desempenho físico ajuda a classificar a gravidade da condição. A velocidade da marcha (caminhada), quando inferior a 0,8 metros por segundo ou escores baixos em testes como o Short Physical Performance Battery (SPPB) indicam sarcopenia avançada e maior risco de perda funcional.
Embora a sarcopenia tenha causas complexas, a boa notícia é que ela pode ser tratada e, em muitos casos, prevenida. A principal estratégia terapêutica é o exercício resistido, ou seja, atividades que envolvem força e resistência muscular, como musculação leve a moderada, exercícios com elásticos, pilates ou mesmo atividades funcionais adaptadas. O ideal é que o plano de atividade física seja individualizado, progressivo e, se possível, acompanhado por um profissional capacitado.
A nutrição adequada é outro pilar essencial no enfrentamento da sarcopenia. A ingestão de proteína de alta qualidade deve ser mantida (em geral, recomenda-se entre 1,0 a 1,2 g de proteína por quilo de peso corporal por dia, podendo chegar a 1,5 g/kg em idosos frágeis). A vitamina D, quando insuficiente, deve ser suplementada, pois também influencia diretamente na força muscular e no equilíbrio. Outras substâncias, como leucina, HMB ou creatina, vêm sendo estudadas, mas ainda não são consideradas padrão de cuidado. Da mesma forma, tratamentos farmacológicos específicos ainda estão em fase de pesquisa e não são recomendados rotineiramente.
A sarcopenia ainda é pouco conhecida fora dos círculos clínicos, mas deveria fazer parte das conversas sobre envelhecimento saudável. Afinal, o músculo é muito mais do que estética ou força: ele está diretamente ligado à nossa capacidade de andar, levantar da cadeira, manter o equilíbrio, evitar quedas e permanecer independentes. Detectar e tratar precocemente a sarcopenia pode fazer a diferença entre envelhecer com autonomia ou com limitações evitáveis.
Profissionais de saúde, cuidadores, familiares e os próprios idosos devem estar atentos aos sinais sutis dessa condição. As ferramentas de rastreamento estão cada vez mais simples, eficazes e disponíveis e a intervenção precoce é altamente eficaz. Investir em atividade física, alimentação adequada, socialização e acompanhamento regular é, hoje, uma das formas mais concretas e eficazes de promover um envelhecimento ativo e com qualidade.