O processo de envelhecimento é, entre outras coisas, uma oportunidade valiosa de revisão de prioridades. Ao longo dos anos, acumulamos não apenas objetos, mas também vínculos, compromissos, ideias e expectativas. Com o amadurecimento, abre-se espaço para escolhas mais conscientes, especialmente sobre aquilo que realmente importa. É nesse contexto, que o minimalismo – movimento que propõe uma vida mais leve, com menos excessos e mais intenção – ganha força entre pessoas com mais de 60 anos.
Embora frequentemente associado a jovens em busca de desaceleração ou ruptura com o consumo excessivo, o minimalismo tem particular relevância para a população mais madura. Não se trata apenas de “ter menos coisas”, mas de cultivar uma vida com mais propósito, clareza e liberdade. Com o passar do tempo, muitos percebem que o acúmulo material, em vez de segurança, pode gerar sobrecarga física, emocional e até mesmo funcional. Casas grandes demais, objetos sem uso, compromissos sem sentido — tudo isso pode se tornar um obstáculo à autonomia e ao bem-estar.
Falo com propriedade: sou adepta do minimalismo há anos. Em diferentes momentos da minha trajetória, já reestruturei completamente minha vida material — reduzindo ao essencial — para realizar mudanças importantes, incluindo mudança de país. Essas escolhas, ainda que desafiadoras, trouxeram leveza, praticidade e liberdade para viver de forma mais alinhada aos meus valores. A experiência pessoal só reforça o que a prática clínica e a observação social já apontam: viver com menos pode significar viver com mais qualidade.
Na prática, adotar uma perspectiva minimalista com o passar dos anos significa simplificar o ambiente doméstico, reorganizar rotinas e estabelecer limites mais saudáveis nas relações e obrigações. Esse movimento favorece não apenas a saúde mental — por reduzir estímulos desnecessários e promover foco — como também a saúde física, ao facilitar a mobilidade, a autonomia e a organização do cotidiano.
Além disso, o minimalismo está profundamente alinhado com a busca por significado, algo que se intensifica com a idade. Ao reduzir o consumo desenfreado e priorizar experiências, conexões humanas e tempo de qualidade, muitas pessoas redescobrem prazeres simples que haviam sido ofuscados pela velocidade e pela exigência das décadas anteriores. Trata-se, em última instância, de uma escolha ativa por viver melhor, e não apenas por mais tempo.
É importante destacar que o minimalismo não deve ser confundido com privação. Pelo contrário: trata-se de um exercício de presença e consciência, em que cada escolha é feita com intenção. Para muitos idosos, isso significa, por exemplo, renunciar a um estilo de vida acumulativo para investir em viagens significativas, cursos que sempre desejaram fazer, momentos com os netos ou uma rotina mais contemplativa.
Do ponto de vista clínico e social, há ainda ganhos importantes. Um ambiente mais simples reduz riscos de quedas, facilita cuidados e promove maior independência. A reorganização da casa, por exemplo, pode ser um momento de elaboração afetiva, revisão de memórias e construção de novos sentidos para o futuro.
Viver com menos — menos objetos, menos ruído, menos pressa — abre espaço para o que realmente importa: vínculos genuínos, saúde integral, presença no aqui e agora. Mais do que uma tendência, o minimalismo pode ser um caminho profundo de reconexão com o essencial e trazer diversos frutos ao processo de envelhecimento.