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Envelhecimento bem-sucedido no Brasil

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Juliana Chaer

09 set |

6 min

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O conceito de envelhecimento bem-sucedido no Brasil é amplamente reconhecido como um processo multidimensional, que transcende a ausência de doenças e incapacidades físicas. Envolve, de forma integrada, a manutenção da funcionalidade física e cognitiva, a autonomia nas atividades da vida diária, a preservação da saúde mental, o engajamento social ativo e uma percepção positiva da própria saúde. A literatura
nacional aponta que fatores como ausência de múltiplas morbidades, prática regular de atividade física, boa autopercepção de saúde, independência funcional, ausência de depressão e participação em redes sociais são centrais para esse modelo.

Além dos determinantes biomédicos, aspectos psicossociais desempenham papel igualmente relevante no envelhecimento bem-sucedido. Hábitos de vida saudáveis, estratégias adaptativas de enfrentamento, suporte social, autoestima e satisfação com a vida compõem uma rede de fatores protetores que influenciam diretamente a experiência do envelhecer. Escalas validadas para a população brasileira, como a Successful Aging Scale, evidenciam essa abordagem ampliada, que contempla saúde física, adaptação psicológica e participação ativa na sociedade.

A espiritualidade, por sua vez, surge como uma dimensão significativa. Estudos indicam que tanto a religiosidade organizacional — expressa na participação em atividades religiosas — quanto a religiosidade intrínseca — vinculada à importância subjetiva da fé — estão associadas a melhores indicadores de funcionalidade, saúde mental e engajamento social, contribuindo para o bem-estar subjetivo e a construção de sentido na vida em fases avançadas da existência.

Estudos mostram que a prevalência do envelhecimento bem-sucedido é relativamente baixa entre idosos brasileiros, situando-se em torno de 25%. No entanto, sua ocorrência está fortemente associada a fatores modificáveis, como prática de atividade física, ausência de doenças crônicas, e manutenção de vínculos sociais. Esses dados reforçam o potencial de intervenções específicas e multissetoriais para ampliar esse perfil na população idosa.

Nesse sentido, as estratégias para promoção do envelhecimento bem-sucedido no Brasil devem contemplar múltiplas dimensões. A promoção da autonomia e da independência funcional exige estímulo à atividade física regular — como caminhadas e dança —, associadas à robustez física e à preservação das habilidades necessárias para as atividades da vida diária. O acesso a espaços públicos adequados, como praças e parques, é considerado um fator facilitador essencial.

A saúde física e mental deve ser promovida por meio do rastreamento e manejo adequado de doenças crônicas, prevenção e tratamento da depressão, e incentivo a hábitos alimentares saudáveis. A autopercepção positiva de saúde, relevante tanto do ponto de vista clínico quanto psicológico, pode ser estimulada por meio de ações educativas e suporte psicossocial contínuo.

O engajamento social e o suporte comunitário exercem papel fundamental, incluindo a participação em grupos, atividades culturais, de lazer e voluntariado, bem como o fortalecimento dos vínculos familiares e de amizade, fatores que protegem contra o isolamento e promovem maior bem-estar emocional. Estratégias adaptativas, como a resiliência, também devem ser incentivadas por meio de programas educativos e intervenções psicossociais com foco na valorização da experiência de vida acumulada.

A inclusão da espiritualidade nos modelos de cuidado é recomendada, considerando a sua associação com indicadores positivos de saúde e qualidade de vida. A religiosidade, quando respeitada em sua diversidade de expressão, pode ser integrada tanto no plano individual quanto em políticas públicas voltadas à atenção integral ao idoso.

Por fim, destaca-se a necessidade de políticas públicas que garantam acesso equitativo a serviços de saúde, espaços de convivência, oportunidades de participação social e suporte à espiritualidade, como forma de mitigar as desigualdades regionais e socioeconômicas que ainda permeiam o envelhecimento no Brasil.

Promover um envelhecer bem-sucedido requer, portanto, uma abordagem integrada, centrada na pessoa e comprometida com a dignidade e a qualidade de vida ao longo de todo o curso da vida.

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